Exercício Físico na Doença Oncológica
É FUNDAMENTAL QUE A PRÁTICA DE EXERCÍCIO FÍSICO SEJA PARTE INTEGRANTE DO PLANO DE TRATAMENTO DO CANCRO
A prática de exercício físico regular é fundamental na promoção da saúde, quer a nível físico quer a nível psíquico.
Os doentes oncológicos que realizam exercício físico regularmente apresentam efeitos secundários menos graves associados aos tratamentos, melhorando a sua qualidade de vida e diminuindo o seu risco de recaídas.
Atualmente, já existe forte evidência científica associada aos benefícios do exercício físico na área oncológica. A investigação mostra que o exercício pode ajudar os doentes oncológicos a tolerar melhor os tratamentos, minimizar os declínios físicos causados pela doença, contrariar a fadiga (um dos principais sintomas reportados pelos doentes e com um forte impacto nas atividades diárias), minimizar sentimentos de ansiedade e depressão, o linfedema (acumulação de líquido linfático no tecido adiposo) – e sobretudo, melhorar a qualidade de vida.
Também existem alterações relacionadas com a composição corporal, muito frequentes durante e após os tratamentos: nomeadamente a diminuição da massa muscular (sarcopenia) e da massa óssea (osteopenia e osteoporose), assim como possíveis complicações cardíacas, que podem ser atenuadas através da prática de exercício físico. No caso específico do cancro da mama, por vezes a cirurgia implica proceder a um esvaziamento axilar, isto é, à remoção de gânglios linfáticos da axila do lado da mama afetada. Podem então surgir complicações associadas à mobilidade do ombro e, por vezes, um linfedema (inchaço do braço do lado operado devido à acumulação de linfa nos tecidos).
No passado recente, havia um mito em relação ao treino de força em mulheres com cancro da mama, recomendando que estas não movimentassem o braço afetado nem carregassem qualquer tipo de peso, pois isso poderia levar ao aparecimento e/ou exacerbação do linfedema. Infelizmente, nos dias de hoje, ainda há quem acredite nisso.
Contudo, a evidência científica, assim como os resultados que se têm verificado no terreno (que posso confirmar, após mais de oito anos de intervenção direta com pessoas com este tipo de cancro), mostram precisamente o contrário. Ou seja, a prática de exercício pós cirurgia, desde que devidamente orientado e supervisionado, nomeadamente a que inclua treino de força, não só é uma opção segura, mas sobretudo eficaz na redução deste efeito secundário, uma vez que potencia as respostas hemodinâmicas venosas e a circulação linfática, contribuindo para uma diminuição do inchaço associado ao edema.
Implica prescrições individualizadas, por um profissional devidamente credenciado, que englobem exercícios específicos, realizados com determinadas intensidades e volumes.
As diretrizes baseadas em evidências recomendam que as pessoas com cancro sejam tão fisicamente ativas quanto a sua capacidade e condição atual permita.
FONTES:
Entrevista de Ana Gerschenfeld, Health & Science Writer da Fundação Champalimaud.